Musica e Canto Litúrgico - Parte II

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Função ministerial da música e do canto

a) Canto processional de Entrada (acompanha o rito, o movimento, a procissão) conforme Santo Agostinho: “Canta e caminha!” Finalidade: constituir e congregar a assembléia, introduzindo-a no mistério a ser celebrado – tempo litúrgico, sonorizar o caráter festivo da celebração, fomentar a união dos fiéis, dar o tom da celebração. O Missal Romano diz: “... seja adequado à ação sagrada ou à índole do dia ou do tempo litúrgico”, elevando seus pensamentos à contemplação do mistério litúrgico. Pode ser usada a antífona com seu salmo (Gradual Romano) ou outro canto, executado pelo povo ou alternando grupo coral e povo. Características: ser de grande amplidão, alegre e vibrante, de preferência em tom maior, ritmo binário (hino ou canto estrófico: refrão e estrofes), de preferência a uma só voz, para facilitar o canto do povo. Santo Agostinho descreve o início da missa da Páscoa de 426, em sua catedral de Hipona: “Dirigimo-nos para onde estava o povo; a igreja estava superlotada, nela ressoavam os gritos de alegria: Graças a Deus, Deus seja louvado! Ninguém se mantinha calado... Saudei o povo: as aclamações recomeçaram, com ardor multiplicado. Por fim fez-se silêncio, e foi lida a passagem das divinas escrituras relacionadas com a festa.” (do livro De Civitate Dei)

b) O rito penitencial – Senhor, tende piedade ou Kyrie eleison - é uma aclamação suplicante endereçada a Cristo, o Senhor, louvando-O e à sua misericórdia. Pertence aos cantos rituais, constituindo o próprio rito da celebração (Ordinário da Missa) Não é o Ato Penitencial, mas sim uma doxologia ou proclamação da bondade e misericórdia de Deus, cantado após o Ato Penitencial e a absolvição, a não ser que já tenha participado do mesmo, através das várias fórmulas apresentadas pelo Missal Romano, como variante deste. Historicamente o Kyrie eleison parece provir da Oração dos fiéis, com caráter de ladainha. Após o Concílio Vaticano II: “É um canto mediante o qual os fiéis aclamam o Senhor e imploram sua misericórdia.” Quando São Dâmaso mudou a missa do grego para o latim, deixou o Kyrie imutável, em grego, e assim atravessou os séculos. Seria completamente alheio a seu caráter substituir o Senhor por um hino, estrófico ou não. (Kyrios foi o nome mais comum dado a Cristo Ressuscitado pelos primeiros cristãos). Farão parte dele o povo e os cantores. Importa não acentuar demais o aspecto penitencial na Celebração Eucarística, evitando também paráfrases e outros cantos penitenciais.

c) Glória – Diz a Introdução do Missal Romano: “O Glória é um hino antiqüíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro, portanto de caráter doxológico (louvor, glorificação).É cantado de forma direta pela assembléia dos fiéis ou pelo povo em alternância com os cantores, ou ainda só pelo coro.” ( n.53) É uma das peças mais antigas da Missa, incorporada pela igreja romana no século II, por ocasião do Natal. Sua nota dominante: o júbilo, louvor confiante e alegre... Como hino que é, deve ser cantado. Pode ser dividido em três partes: a) o canto dos anjos, na noite de Natal; b) os louvores a Deus Pai; c) os louvores seguidos de súplicas e aclamações a Cristo, o Cordeiro, o Kyrios , o Senhor. Canto em prosa , conforme Missal Romano, há várias melodias. Metrificado pela CNBB, outras tantas. Evitar os “Glorinhas”, trinitários, que abreviam o conteúdo rico do mesmo. Não deve ser substituído por outro canto de louvor, pois faz parte dos cantos rituais, é o próprio rito. Santo Agostinho nos dá as características do Hino, que são três: “É um canto com louvor a Deus, que pois, deve constar do seguinte: do canto, do louvor e de que seja dirigido a Deus.”

d) Salmo Responsorial – O costume de se cantar o salmo após a leitura remonta aos primeiros séculos do cristianismo, prática herdada do culto da sinagoga judaica. Santo Agostinho fala do valor do salmo cantado durante a liturgia da palavra, como uma “leitura cantada”. Faz parte integrante da Liturgia da Palavra, como resposta orante da comunidade à proposta e às maravilhas proclamadas por Deus na primeira leitura, e deve ser cantado de forma dialogal, o texto de preferência extraído do Lecionário, que é a nossa Bíblia litúrgica. Importância da função do salmista, ao mesmo tempo ouvinte e ministro da Palavra; ele proclama o salmo no ambão – mesa da Palavra. O salmo é a proclamação da Palavra cantada, por isso requer-se o mínimo de preparo técnico e vocal , litúrgico e musical do salmista. Devido à sua importância, não deve ser omitido nem substituído por “canto de meditação”. É um canto ritual interlecional, cantado entre as leituras..

e) Aclamação ao Evangelho, o “Aleluia” - adaptação portuguesa do Halelû Yah = Louvai Javé. Portanto, convite ao louvor jubiloso, através do qual a assembléia dos fiéis acolhe o Senhor que vai falar no Evangelho; como um “viva” pascal ao Verbo de Deus, que nos dirige palavras de vida eterna. É uma solene e jubilosa profissão de fé cantada, aclamando Jesus Cristo. Portanto, sendo aclamação, é um grito com que exteriorizamos nossos mais profundos sentimentos e experiências de vida, projetando-nos para fora de nós, algo que espontâneo brota do interior e se faz exclamação, grito de júbilo. Por isso, deve ser breve, denso e sonoro. Também por isso mesmo, só pode ser cantado, não se lê, não se diz, só se canta... O ideal: Aleluia (todo o povo) + versículo do dia ( solista ou coral) É aclamação-júbilo. (As aclamações são importantíssimas para a participação do povo). Na Quaresma é substituído por outra aclamação, mas também vibrante e sonora. É cantado por todos, de pé, podendo acompanhar a procissão com o Evangeliário, do altar para o ambão, hoje já tão em uso nas nossas liturgias. (Aclamar = aplaudir, aprovar entusiasticamente... Nossas Missas com o Papa...) Pode-se repetir a aclamação como resposta ao Senhor que nos falou, no final do Evangelho.

f) Credo – A profissão de fé é menos apta para ser cantada por toda a assembléia, mas a Instrução Geral do Missal Romano prevê: “O símbolo deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote com o povo aos domingos e solenidades; pode-se também dizer em celebrações especiais de caráter mais solene. Quando cantado, é entoado pelo sacerdote ou se for oportuno, pelo cantor ou pelo grupo de cantores; é cantado por todo o povo junto, ou pelo povo alternando com o grupo de cantores.” Foi introduzido lentamente na liturgia da Missa. Chegou a Roma pelo século X, embora na Espanha já fosse aceito no século III . A partir do canto polifônico, se tornou uma peça musical brilhante. Os documentos dizem que não existe obrigação de cantá-lo, pois não é hino nem aclamação, mas sim profissão de fé. Se for cantado, “procure-se fazê-lo como de costume, todos juntos ou alternadamente”. Existe a possibilidade de cantar a fórmula mais breve, denominada “símbolo apostólico”, mas não pode ser substituído por canto religioso. É possível utilizar traduções adequadas nas missas com crianças. “Tem como finalidade exprimir o assentimento do povo como resposta à Palavra de Deus escutada nas leituras e na homilia e, ao mesmo tempo, recordar-lhe a regra de fé, antes de começar a celebração da Eucaristia.” É a afirmação da unidade da fé, não só através das diferentes comunidades, mas através dos tempos.

g) A oração universal, Preces - A restauração da Oração Universal foi dos melhores êxitos da reforma litúrgica. Afirma o Ordo da Missa: “Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo reza por todos, exercendo deste modo o seu múnus sacerdotal.”.A ordem é a seguinte: a) pelas necessidades da Igreja; b) pelas autoridades civis e pela salvação do mundo; c) por aqueles que sofrem dificuldades; d) pela comunidade local. É uma herança da tradição judaica, que gostava de acrescentar às bênçãos orações de súplicas, e desde o início do cristianismo foram aceitas e multiplicadas... Pode ser considerado como parte do Ordinário da Missa. Nem sempre as Preces vão ser cantadas, mas o seu canto lhes dará uma solenidade e intensidade especiais. Podem ser cantadas de vários modos, com diversas fórmulas propostas e respostas pelo Missal Romano, salientando o refrão cantado por toda a assembléia. A introdução, as preces e a conclusão são recitadas.



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