Musica e Canto Litúrgico - Parte IV

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O ministério da música e do canto
 
"O canto não deve ser considerado como mero ornamento que se acrescenta à oração, como algo extrínseco, mas antes como algo que emana do profundo do espírito daquele que trabalha e louva a Deus, e mostra de maneira plena e perfeita a índole comunitária do culto cristão."(IGLH 270). O ministério do canto é exercido por todos os membros da assembléia , de acordo com suas diferentes funções litúrgicas. Há cantos que cabem a toda a assembléia, outros que cabem ao ministro, ao coro, ao grupo de canto, ao salmista, sendo que a função do animador ou dirigente do canto é muito especial.

a) A assembléia, comunidade celebrante -“Nada mais festivo e mais grato nas celebrações sagradas do que uma assembléia que, em seu conjunto, exprime sua fé e sua piedade por meio do canto.”(MS 16) A assembléia é o ministro principal da música e do canto. Todos - ministros, cantores e povo – formam uma grande comunidade, sinal da assembléia universal e definitiva em que “toda criatura , do céu e da terra, cantará “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, louvor, honra e glória pelos séculos dos séculos.” (Ap5, 13). B. Huijbers, em seu “L`art du peuple célebrant: “O canto comum é um termômetro que marca o grau de participação de uma assembléia... Não se trata aqui de uma obrigação, mas sobretudo de uma graça. Cantar com os outros pressupõe que a pessoa se entregue e revele algo íntimo... A celebração assume sua verdadeira imagem quando todos começam a cantar juntos.” A renovação litúrgica do Vaticano II tem sua principal razão de ser na participação do povo de Deus no mistério de Deus que se realiza na liturgia. “O povo tem o direito e o dever a esta participação.” (SC 14) Todos os serviços e ministérios nascem da comunidade e a ela se destinam., para sua melhor participação e crescimento espiritual e a “edificação do Corpo de Cristo.” Portanto, a assembléia tem a primazia na participação pelo canto!

b) O coral e o seu ministério na comunidade – A Ordenação Geral do Missal Romano diz que “Entre os fiéis, o coro e os cantores exercem um ofício litúrgico próprio, tendo sempre em vista “favorecer a participação ativa dos fiéis no canto.” O coro desempenha um verdadeiro ministério, em benefício da própria comunidade, sobretudo:1) pela valorização da liturgia cantada (MS 5); 2) pela observância do sentido e da natureza própria de cada rito e canto (MS 6); 3) pela necessidade de variação nas formas de celebração e de participação (MS 10); 4) pelo auxílio que presta à participação do povo (MS 19 ).

c) O animador do canto e seu ministério na comunidade – “Providencie-se haja ao menos um ou outro CANTOR, devidamente formado, o qual deve então propor ao povo ao menos as melodias mais simples, para que este participe, e deverá oportunamente dirigir e apoiar os fiéis. Convém que haja tal cantor também nas igrejas dotadas de coral.” (MS 21). É importante haver um bom ensaiador-animador, pois dele depende em grande parte a boa participação cantada do povo. Alguém que tenha verdadeira capacidade de comunicação, que exteriorize sua liderança, que faça vibrar toda a assembléia com seu próprio entusiasmo; alguém afinado, cuja voz possa chegar a todos , movendo-os com seu dinamismo e convicção. O bom animador/dirigente/guia deve preocupar-se com seu volume e tom de voz, sua vocalização, sua expressão corporal (expressão do rosto, gestos e posição), seu lugar no interior da assembléia, o uso do microfone. Não bastam a boa vontade e a fé para uma boa interpretação do canto como animador – animar não como numa festa ou show, mas o momento da celebração exige outro tipo de animação. Cesário Gabarain nos dá algumas orientações: “Deve ficar num lugar visível, mas ao mesmo tempo discreto. Bem visível para que possa transmitir devoção, segurança e confiança. Discreto para nunca se transformar no centro da celebração...”

d) Instrumentistas e seu ministério na comunidade - “Os instrumentistas podem ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto, quer sem ele.” (MS 25), à medida que prestam serviço à Palavra cantada, ao rito e à comunidade em oração. O instrumento, como a voz humana, não deve em si ser classificado como sacro ou profano. Vai depender do uso que dele fazemos, do contexto em que tocamos, da integração do mesmo na Celebração, nos diversos ritos e momentos celebrativos.Os documentos da Igreja abrem espaço para a inculturação: “Para admitir e usar instrumentos na liturgia, deve levar-se em conta o gênero, a tradição e a cultura de cada povo.” (MS 63) Algumas funções: sustentar o canto, facilitar a participação e criar a unidade da assembléia, com a advertência de que o som dos instrumentos jamais cubra as vozes, de modo que os textos e a mensagem sejam claramente ouvidos e compreendidos. Quanto aos instrumentistas, o documento sobre a Música Sacra adverte também: “... não somente sejam virtuoses no instrumento que tocam, mas tenham entranhado conhecimento do espírito da liturgia e dele estejam penetrados.” Assim, além da qualificação técnica, espera-se que tenham formação litúrgico-musical básica, e vivência litúrgica, para que possam melhor exercer sua função, servindo à liturgia, e não se servindo dela para promoção pessoal. Três coisas importantes para isso: unidade entre o gesto corporal, o sentido teológico e a atitude espiritual. Portanto, “tocar um instrumento exige atitude espiritual, envolvimento na ação litúrgica, por sua atenção e participação ativa e consciente.” (Estudo 79 da CNBB). Todos os instrumentos são acolhidos e bem-vindos na Celebração. O órgão ocupa certamente o primeiro lugar, pois é o instrumento básico na liturgia ocidental, citado em todos os documentos da igreja. Mas não é o único, e nem sempre foi assim... Gino Stefani, em seu livro “A aclamação de todo um povo”, nos fala dos instrumentos que têm principalmente um papel, uma função de “sinal”, de “som-sinal”, isto é, aqueles que não atraem a atenção sobre si, com o objetivo de espetáculo, mas que apontam para outra realidade, com função ritual, indicando o gesto, a ação, dando-lhe assim a importância que merece. Entre eles: os sinos (tubulares, hoje usados na orquestra) e o gongo. A seguir, os metais – trombetas, trombones...(anunciar um canto de entrada, aclamar a Palavra, a multidão...), pela tradição bíblica e religiosa; os de percussão, como o tambor, por sua função universal , além de tímpanos e tamborins, como sinal, reforço aclamatório, apoio rítmico, sempre com determinado objetivo, música, gesto ou momento celebrativo. Na liturgia judaica, já os encontramos presentes, divididos em três categorias: corda, sopro e percussão. Os de corda eram os mais apreciados e apropriados para acompanhar os hinos e salmos: cítara, harpa, alaúde, saltério e lira. Os de sopro: flauta, corneta e trombeta, de grande importância, sobretudo pela sua analogia com o Espírito Santo, Sopro de Deus, evocando, pois, a própria voz do Senhor: “O sopro de Deus ressoa imponente nas trombetas...nos orifícios da flauta...” Em terceiro lugar, os de percussão: tamborim, tambor, pandeiro, triângulo, campainha, sineta. E entre nós são muito aceitos: o atabaque, que tem caráter convocativo e para criar clima de oração. O importante é não “desconcertar” ninguém (= não colocar pessoa alguma fora do concerto), ou seja excluir alguém da celebração, porque a linguagem musical nos perturba, não nos permite rezar, nos é estranha, não conseguimos nos exprimir com ela na liturgia... Entre os nossos instrumentos mais usados destacam-se: as cordas – violão, viola, cavaquinho; percussão – tambores e equivalentes, com tradição bíblica e histórica (ibérica, indígena, africana); entre os de sopro, as flautas, pela analogia com o órgão e pela tradição bíblica e folclórica; o acordeão, de grande familiaridade nos meios populares. Equilíbrio e bom senso, atenção, espírito litúrgico e sensibilidade, para usar de forma adequada os instrumentos, sempre em função da Palavra cantada, do tempo litúrgico, do momento celebrativo, em vista da participação do povo, sendo que a importância do instrumento lhe vem pelo seu caráter simbólico, evocando a voz e ação do próprio Deus. Preferir os instrumentos naturais e acústicos aos eletrônicos, que às vezes fazem muito barulho e pouca música, não favorecendo ou até dificultando a oração da assembléia!

CONCLUSÃO:

“A celebração não é, pois, um conjunto de palavras e gestos unidos de maneira externa e artificial, nem uma sucessão de elementos diversos, todos no mesmo plano. Na verdade, é um grande movimento que se desenvolve, se amplia, chega a um ponto culminante e se encerra, como uma grande sinfonia, ou como a História da Salvação. Os elementos que a compõem se organizam e se concatenam para constituir um grande ritmo, animado por um alento respiratório , por uma vitalidade interna e por uma lógica intrínseca.

Na celebração... os fiéis constituem a nação sagrada, o povo que Deus obteve para si, e o sacerdócio real, que agradece a Deus, oferece, não só por meio do sacerdote, mas juntamente com ele... e aprende a oferecer-se a si mesmo... Atuem, pois, como um único corpo, tanto ao escutar a Palavra de Deus como ao participar das orações e dos cantos, e, especialmente, ao oferecer comunitariamente o Sacrifício e ao participarem todos juntos da mesa do Senhor.Essa unidade manifesta-se claramente na uniformidade de gestos e posturas dos fiéis. Portanto, os fiéis não devem rejeitar servir ao povo de Deus com prazer, quando lhes é pedido que desempenhem na celebração determinado ministério.” (OGMR 62, citado por Francisco Escobar, no Manual de Liturgia II – Paulus, à pág. 64).

E Lucien Deiss:

“Feliz a comunidade que tem a alegria como a rubrica principal da sua liturgia. Que quando celebra a Palavra, se encontra com o rosto de Cristo ressuscitado em cada página da Bíblia! Que ao partilhar o pão e o vinho da Eucaristia, partilha, ao mesmo tempo, o amor entre irmãos e irmãs! Que, para presidir a sua celebração tem um sacerdote, não para dominá-la, mas para servi-la, como irmão!

A missa é o coração da comunidade cristã. A beleza de cada missa é a beleza de Cristo na nossa vida!” (A Missa da comunidade cristã, Lucien Deiss – Editorial Perpétuo Socorro, Porto, Portugal, pág. 126).

Os símbolos litúrgicos, gestos, música, palavras, ritos... são realidades abertas, nunca compreendidos e captados plena, adequada e definitivamente... Ao contrário, exortam a ir sempre mais longe e mais profundamente; eles orientam para um ilimitado universo de significações. Põem em comunhão com mistérios insondáveis, porque são divinos; os mistérios de Cristo Pascal, até a iluminação do último dia, no qual já não haverá nem rito nem símbolo, porque nos será dada a graça de ver face a face Aquele que eles evocam e a Quem nos fazem encontrar na obscuridade e na fragilidade da fé.” ( Manual de Liturgia II – CELAM, Paulus, pág. 106).

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Fonte: http://www.irmamiria.com.br/

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